Entre as lendas da história do cinema, Charles Chaplin foi um artista completo para a sétima arte, isto é, desde diretor até músico dos seus filmes. Além de uma manifestação artística única, ele sempre se posicionou politicamente e fez várias reflexões interessantes sobre a vida. Confira.

Biografia

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Em 16 de abril de 1889 nasceu o londrino que revolucionaria a história do cinema: Charles Spencer Chaplin Jr. Filho de artistas do ramo do teatro, ainda com três anos, ele viu a separação dos pais e passou a morar somente com sua mãe. Com condições financeiras e emocionais debilitadas, Hannah Chaplin sofreu de desnutrição e depressão forte. O pequeno Charles e seu irmão Sydney foram enviados para um internato, onde ficaram de 1896 a 1898.

Ao sair do abrigo, Charles e Sydney foram morar com o pai alcoólatra. Em menos de dois meses, um órgão de proteção à criança recolheu os irmãos, que, então, voltaram a morar com a mãe, já melhor de saúde física e mental. Na época em que seus pais trabalhavam no “music halls”, Chaplin fez algumas apresentações. Por ser familiarizado com o ramo (sem contar um provável talento natural), o garoto engajou-se no teatro com a companhia de Fred Karno, um grande empresário da dramaturgia britânica, que promovia peças cômicas e contratava grandes atores para a sua trupe, alternando turnês pelos Estados Unidos e Inglaterra.

Com a ascensão do cinema, o “music hall” entrou em crise e os artistas migraram para a arte cinematográfica. Como muitos outros, Charles Chaplin teve dificuldade para se adaptar ao modo de atuação, tanto que seu primeiro filme, “Carlitos Repórter” (1914), foi um fracasso. Entretanto, a partir de “Corrida de automóveis para meninos” (1914), Chaplin começou a brilhar e mais tarde chegaria ao cargo de diretor de cinema.

Dentro da “Essanay”, produtora que deu espaço e um bom salário para o cineasta, Chaplin produziu “O Vagabundo” (1915) – seu primeiro e um dos grandes sucessos da sua carreira. A personagem é um enlace entre o humilde e o malandro, vestido com roupas desgastadas, um chapéu-coco e o famoso bigode. Nasce, então, o eterno Charles Chaplin.

Chaplin passou por três casamentos com divórcios não muito amigáveis. Seu último relacionamento, inclusive, foi com uma menor de idade, ainda que eles tenham se casado somente quando a moça completou 18 anos. Em 1918, após o lançamento de “Ombros Armas” (1918), parte do público e os poderes políticos acusaram o artista de comunista. Em 1952, ele precisou sair do seu país e ir para a Suíça, onde ficou até o fim da sua vida, com alguns retornos aos Estados Unidos para eventos e premiações.

A importância de Chaplin para a história do cinema

Charles Chaplin foi um dos poucos cineastas que alcançou uma popularidade inigualável. Até mesmo o público mais jovem sabe quem foi o artista. Em sua época, ele compreendeu o cinema mudo e a comédia em um nível universal, conquistando plateias diversas e se tornando o principal nome desse formato.

Outra ação de suma importância foi a cofundação do estúdio United Artists, junto com Mary Pickford, Douglas Fairbanks e D.W. Griffith. Esse foi um ato de rebeldia contra a soberania dos estúdios sob comando de Thomas Edison. Desse modo, Chaplin assegurou sua independência como cineasta e teve maior liberdade de criação. Filmes como “Casamento ou luxo” (1923), “Em busca do ouro” (1925) e “O Circo” (1928) são bons resultados da produtora. Até os dias atuais, o mercado cinematográfico segue o modelo de produção e distribuição criado pelo britânico.

Os métodos de um gênio

As técnicas de atuação desenvolvidas por Chaplin são referências para a arte cinematográfica. Além disso, como diretor e roteirista, ele criou um estilo próprio muito ímpar. A seguir, veja algumas características do cineasta:

  • Expressividade: para Chaplin, a expressão do ator deve estar na linguagem corporal com exagero e fluidez de movimentos. Vale dizer que o exagero gestual não é uma característica do cinema mudo para suplantar as ausências de diálogos. Segundo Celso Sabadin (2018), o estilo de Charles Chaplin era bem diferente da atuação do seu contemporâneo Buster Keaton, sendo esse mais discreto e menos teatral. A mímica era uma marca de Chaplin, que levou a força expressiva até para seus filmes falados.
  • Humor Pastelão: o riso fácil causado por trapalhadas, lutas desconcertadas, acidentes, tombos etc. – um combo infalível até os dias de hoje. Muitos clássicos dos desenhos animados, como Pica-Pau e Tom e Jerry mantêm a fórmula e permanecem por gerações. O subgênero ganhou outros representantes no decorrer dos tempos, mas a imagem de Chaplin é a primeira a aparecer quando o assunto é essa vertente da comédia.
  • Comédia (melo)dramática: para a época, o tom melancólico da comédia de Chaplin era único. Várias de suas personagens apresentavam doses de atos fraternos e delicados. Essas características influenciaram outros gêneros, como o drama com comédia (dramédia), comédia-romântica etc.
  • Crítica social: a posição contra os modos de trabalho explorativos fica evidente em “Tempos Modernos” (1936). Entretanto, de alguma forma, a desigualdade social sempre esteve presente em suas obras em maior ou menor grau, como as condições paupérrimas da mãe que tem de deixar seu filho para uma família rica em “O Garoto” (1921).
  • Atemporalidade: em Chaplin, a crítica social é atemporal. Seus filmes, como “Tempos Modernos” (1936) e “O grande ditador” (1941), refletem conflitos políticos e sociais que sucedem as obras, mostrando como o cineasta estava à frente do seu tempo.

É difícil quem não tenha assistido pelo menos um trechinho de Chaplin. Do riso à crítica social, o cineasta deixou um legado artístico inestimável. A seguir, confira algumas frases do autor.

5 frases de Chaplin

Do outro lado da telinha, havia um homem que enxergava o mundo nos detalhes. Relembre algumas reflexões que se eternizaram no tempo:

  1. Creio no riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror.
  2. O tempo é o melhor autor; sempre encontra um final perfeito.
  3. Falar sem aspas, amar sem interrogação, sonhar com reticências, viver sem ponto final.
  4. O som aniquila a grande beleza do silêncio.
  5. Mais do que máquinas precisamos de humanidade. Mais do que inteligência precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes a vida será de violência e tudo estará perdido.

A esperança de um mundo melhor ressoa na sensibilidade do artista. Com certeza, suas obras soltaram o riso de muitas pessoas. Continue a leitura para conhecer os principais filmes de Chaplin.

10 dos 81 filmes de Chaplin

Quase todos os filmes de Charles Chaplin foram estrelados por ele. Confira alguns títulos que merecem sua atenção, uma tarde chuvosa e um balde de pipoca:

Corrida de automóveis para meninos (1914)

Como dito anteriormente, “Corrida de automóveis para meninos”, dirigido por Henry Lehrman, é considerado o filme que lançou Chaplin para o mundo do cinema. O artista atrapalhado improvisa em meio a uma corrida de carros em Venice desencadeando o riso no telespectador.

O Vagabundo (1915)

Charles Chaplin já havia interpretado o “vagabundo” em outros filmes. Porém, em 1915, a personagem ganhou novos tons e emplacou o ator. Antes, a comédia predominava, mas, com a repaginação, a melancolia entrou em cena e se tornou um elemento constante em suas obras.

O garoto (1921)

Uma mulher pobre deixa o filho em uma limusine ansiando que ele seja adotado por uma pessoa rica. Entretanto, o automóvel é roubado e os ladrões jogam a criança em uma lata de lixo. Um vagabundo encontra o bebê e cuida dele por anos. “O garoto” é uma obra que exemplifica a carga dramática presente nos filmes de comédia do artista.

Casamento ou Luxo (1923)

A carga dramática prevalece em “Casamento ou Luxo”. Marie e Jean, impedidos de ter um relacionamento, tentam fugir para Paris. Entretanto, acontece um desencontro e somente a moça desembarca na França. Por lá, ela segue sua vida e se casa com um homem muito rico. Anos depois, há o reencontro do casal. A situação intrigante de Marie se resume ao título da obra.

Em busca do ouro (1925)

Alguns teóricos atestam que “Em busca do ouro” era um dos filmes favoritos de Chaplin. O longa é muito lembrado pela clássica cena de Jim e Carlitos cozinhando uma botina. No enredo, a personagem de Chaplin vai ao Alasca em busca de ouro e riquezas, precisando enfrentar inimigos e tempestades de neve.

O Circo (1928)

“O Circo” é o penúltimo filme mudo de Chaplin. Em meio à multidão, um ladrão coloca uma carteira roubada no bolso do morador de rua para despistar a polícia. O vagabundo não entende o que está acontecendo e desanda a correr. Um policial estranha a cena e começa a seguir o ladrão que, por sua vez, está perseguindo o pobre rapaz para recuperar seu furto. O vagabundo acaba em um espetáculo circense, em meio ao picadeiro, provocando o riso na plateia. O dono do circo vê ali uma oportunidade de sucesso, na verdade, de exploração.

Luzes da Cidade (1931)

Símbolo da resistência de Chaplin em relação aos filmes sonoros, o filme “Luzes da cidade” só foi produzido no formato cinema mudo porque o cineasta tinha essa liberdade em sua produtora. Chaplin interpreta um vagabundo apaixonado por uma cega. Ele finge ser rico, então, quando ganha mil dólares de um milionário bêbado, dá o dinheiro para a moça fazer uma cirurgia nos olhos. O rapaz é acusado de ladrão e preso. Ao sair da cadeia, a mulher já estava enxergando perfeitamente. A partir daí, é plantada a dúvida: como ela reagirá quando descobrir que o milionário idealizado é, na verdade, um vagabundo?

Tempos Modernos (1936)

Um dos maiores clássicos da história do cinema, “Tempos Modernos” é uma sátira sobre a mecanização da modernidade. Em um contexto histórico manchado pela quebra da bolsa de Nova York e a chegada da 2ª Guerra Mundial, o filme retrata o operário em uma péssima condição de trabalho. Segundo Brandão (2009), a obra reflete o embaraço da realidade de 1932. Uma crise da redução da produção industrial levou 130 grandes estabelecimentos e 10 mil bancos à falência, assim, o número de desempregados chegou a 17 milhões (BRANDÃO, 2009).

O grande ditador (1940)

Indicado a 5 Oscars, o filme é uma sátira contra o nazismo e o fascismo vigente. Adenóide Hynkel, interpretado por Chaplin, é uma paródia de Hitler. Há uma cena em que a personagem discursa e convida as pessoas a se unirem contra a opressão dos poderosos. A partir disso, surgiu a polêmica de “propagação comunista” e o filme foi censurado em diversos países, inclusive, no Brasil no governo Vargas.

A condessa de Hong Kong (1967)

Apesar de ser considerado o filme mais fraco do cineasta, é interessante conhecer a sua última obra, produzida aos 77 anos. Além de escrever e atuar, Chaplin dirige Marlon Brando e Sophia Loren. O protagonista e o diretor tiveram bastantes atritos durante a produção, e é visível certo desdém de Brando na interpretação da sua personagem. No enredo, uma prostituta russa conhece um empresário americano e tenta entrar ilegalmente nos Estados Unidos.

Antes de maratonar as indicações acima, vale conhecer um pouquinho mais sobre a obra desse grande cineasta. Então, no próximo tópico, veja o que alguns especialistas dizem sobre Charles Chaplin.

Mais sobre o homem do chapéu-coco

Charles Chaplin teve uma vida complexa e uma obra riquíssima. A seguir, confira uma seleção de vídeos com informações e análises que te ajudarão a entender o gênio do cinema.

Chaplin e um dos maiores filmes da história

“Tempos Modernos” é uma das obras mais procuradas e estudadas. Nesse vídeo, o professor traz uma contextualização histórica do filme. A linguagem é acessível e há várias reflexões interessantíssimas.

Um dos construtores da história do cinema

Antonio Meurer é fã de Charles Chaplin e, nesse vídeo, expressa sua paixão com várias curiosidades sobre a vida e a obra do cineasta. Além de detalhes da infância, o youtuber fala sobre a criação e eternização da personagem Charles Chaplin.

Mais sobre o gênio

Depois de várias curiosidades sobre Chaplin, ainda há mais! Confira outros detalhes sobre a vida do artista, assim como suas atitudes no set de filmagem.

Se gostou desse diretor, não deixe de conferir sobre outro cineasta britânico, o grande Alfred Hitchcock, um nome que também revolucionou o cinema.

Referências

A história do cinema para quem tem pressa (2018) – Celso Sabadin.

Biografia Charles Chaplin (On-line) – Disponível em: Acesso em: 09 de jul. de 2022

Os tempos modernos de Charles Chaplin (2009) – João Bosco Brandão

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