Hollywood é a maior indústria cinematográfica do mundo. Por isso, é muito comum fazer a ligação entre Hollywood e cinema. Apesar de grandes crises, seu sucesso está, principalmente, na construção de um modo clássico de se contar história e no investimento das produções. Por isso, saiba mais sobre essa indústria.
História do cinema de Hollywood
A origem do cinema de Hollywood começou com as investidas de Thomas Edison. Ele patenteou o uso das câmeras nos Estados Unidos, forçando que os demais investidores se unissem a ele na criação de associações.
Assim, a qualidade dos maquinários de filmagem começaram a melhorar e, com isso, diversas empresas (como Biograph, Pathé, Star, Vitagraph, dentre outras) criaram a Motion Pictures Patents Company (MPPC), na qual Thomas Edison passou a comandar a empresa.
A companhia atingiu um nível de controle soberano, fazendo com que fossem os únicos que poderiam usar as câmeras e projetores. Qualquer outra produção que ousasse vender material cinematográfico era barrada pelos direitos autorais e/ou passavam pelo julgamento.
Para driblar a soberania de Edison, as pequenos estúdios passaram a se mudar para Los Angeles, no distrito de Hollywood, pois essa cidade era mais flexível em relação às leis. Grandes estúdios foram criados gradativamente por ali e perduram até hoje, como o MGM, Paramount, Warner, Fox, Universal e Columbia.
A era dos estúdios
Na História do Cinema, a “era dos estúdios” ganhou esse nome, pois este sistema se tornou infalível, tanto em números de produções quanto na rentabilidade. Ou seja, Hollywood seria o polo econômico nacional devido a essa era.
Os estúdios buscavam criar cada qual a sua assinatura, investindo em características que ficassem relacionadas às suas produções e o espectador pudesse automaticamente criar uma relação. Por exemplo, a Universal Pictures investia em filmes de terror, como Drácula (1931) e Frankenstein (1931); enquanto isso, a Warner Bros em épicos, como O mágico de Oz (1939) e E o vento levou (1939).
Enquanto isso, David Bordwell e Kristin Thompson atestam que a MGM “tornou-se um estúdio de prestígio com um grande número de estrelas e técnicos trabalhando sob longos contratos. O estúdio esbanjava dinheiro com cenários, vestuário e efeitos especiais”. Um exemplo disso é o filme São Francisco: a cidade do pecado (1936), no qual a tragédia do terremoto de 1906 foi retratado com maestria.
A era de ouro
Este período começou em 1920 e foi até 1960. Levou este nome, porque o cinema hollywoodiano ganhou reconhecimento e popularidade, graças ao crescimento dos estúdios e as estrelas que surgiram nesse período. Após a crise da grande depressão, o cinema tornou-se uma válvula de escape para a sociedade e isso estimulou o crescimento das produções.
Com a tecnologia voando, década a década uma novidade surgia para os espectadores. Na de 20, o advento do cinema sonoro já causou uma grande mudança. Já na década de 30, o technocolor começou a brilhar. A Branca de Neve e os sete anões (1937) foi a primeira animação colorida, enquanto Vaidade e Beleza (1935) foi o primeiro filme colorido e comercializado.
Na década de 40, as comédias e os musicais ascenderam, por causa da Segunda Guerra Mundial. Ao mesmo tempo, cada empresa traçou uma estratégia e filmes como O Grande Ditador (1940), Cidadão Kane (1941), O Falcão Maltês (1941) e Casablanca (1943) surgiram.
Nos anos 50, as comédias e musicais atingiram seu apogeu, com Cantando na Chuva (1952) e Quanto mais quente melhor (1955). É nessa época que a estrela de Marylin Monroe se destaca nas atuações.
Por fim, na década de 60, o sucesso dos musicias se estenderam, com Amor, sublime, amor (1961) e Alfred Hitchcock se consolidou com Psicose (1960). Nomes de atores, como Marlon Brando, Sharon Tate, Brigitte Bardot, Jane Fonda, Audrey Hepburn e Al Pacino surgiriam nessa década.
Hollywood Atual
A Hollywood atual começa na década de 80, já constituída pela pluralidade temática advinda de tudo que antecedeu. O que movimenta o mercado cinematográfico é a ascensão da fita cassete que trouxe o cinema para dentro das casas. Nessa época, os filmes passam a referenciar os clássicos e a puxar referências dos filmes internacionais.
Quentin Tarantino, por exemplo, coloca em seus filmes homenagens a obras da era de ouro, assim como os westerns asiáticos. A cultura pop passa a aparecer nas obras do diretor Spike Lee, com estilo muito ligado aos clipes musicais que faziam sucesso na TV. A edição de filmes começou a ganhar um ritmo mais acelerado e alternativo, mostrando que as características desse momento influenciavam não somente no conteúdo, mas também a forma da linguagem.
Esse era o cinema independente da Hollywood contemporânea. Junto a esse estilo, os Blockbusters (filmes de grande bilheteria), com filmes de ação em que um único personagem é o herói dentro de um universo cheio de ameaças começa a ganhar popularidade. Nomes como Sylvester Stallone, Arnold Schwazenegger e Jean Claude Van Damme são eternizados.
A extensão desse modo de contar história chegaria aos heróis da Marvel e da DC. Inclusive, esses filmes mostram a lógica do mercado atual, que não cessa as produções das histórias em quadrinhos, já que possui o seu público bem solidificado. Esse subgênero possui uma tática de pré-venda, com muito investimento em sua divulgação e a pós-venda, com concentração em produtos do filme e direcionamento para os streamings.
Outro desvinculo impossível de ser feito quando se fala na Hollywood contemporânea são esses serviços de streaming. Hoje, essas marcas bancam a produção de diversas obras, fazendo com que as salas de cinema sejam, em alguns casos, uma opção secundária, com longas exibidos em poucas sessões.
O Oscar, a mais famosa premiação do cinema, virou alvo dos canais de streamings. “No ritmo do coração” (2021), venceu a temporada de 2022 e a AppleTv se tornou a primeira plataforma a levar o prêmio de melhor filme. Como a exibição em salas é obrigatória para concorrer, o filme foi exibido em algumas salas, o que tornou os ingressos disputados. O resultado foi criar sessões particulares, apenas para membros convidados pelos produtores.
Grandes produções, como Batman (2022), tiveram lançamento mundial nos cinemas. Porém, com data já agendada para estrear na plataforma da HBO e em um espaço de tempo muito curto. Com isso, vê-se no cinema atual de Hollywood um retorno a situação do cinema versus televisão da década de 50. Tratando-se de mercado, é necessário pensar as produções atuais de modo a serem vistos pelo público nas grandes salas de cinema, mas também no conforto de suas casas.
Embora Hollywood não seja a maior indústria de cinema do mundo (China e India superam em números), ela pode ser considerada uma potência em alcance de público. Em sua história, percebe-se que foi desenhado o seu crescimento junto as exigências da época e perfil do seu público. Dá-se ai o sucesso de seu cinema, junto ao talento dos artistas que fazem parte dos seus trabalhos.
Características do cinema de Hollywood
Atualmente, há diversas formas de se fazer um filme, entretanto há um alicerce que foi construído década a década dentro desse cinema. Veja algumas dessas qualificações:
- Montagem em continuidade: os filmes possuem histórias lineares (começo, meio e fim) bem desenvolvidas para a compreensão do espectador. Além disso, mesmo que seja uma forma “simples” de se contar uma história, o seu conteúdo pode ser profundo e muito explorado;
- Personagens bem-definidos: os personagens também possuem características bem marcadas para quem acompanha a sua aventura. Sua vulnerabilidade e seu objetivo na trama são o que mantém o público sentado na poltrona até o final da sessão;
- Causa e efeito: resoluções de causa e efeito são tão potentes que fica difícil encontrar filmes que não utilizam dessa forma em alguma medida. Esse efeito faz o espectador compreender as razões do protagonista ir atrás de vingança ou de ele ser perseguido, por exemplo;
- Unidade de tempo e espaço: é o principal meio do público se localizar na história. Por este motivo, o flashback também é um recurso essencial. Em alguns casos, a tela até muda de cor para que fique explicito a intenção de voltar no tempo.
- Organização cênica: o movimento dos atores na tela e a preocupação o posicionamentos são características desse cinema clássico. O principal exemplo pode ser percebido quando dois personagens estão conversando e ocorre a troca contínua de uma câmera para a outra.
Essa foi a base criada pelo cinema hollywoodiano em suas características narrativas. Assim, veja a seguir algumas obras que mostram essas variações.
Filmes do cinema de Hollywood
Confira alguns filmes que foram importantes na construção da história do cinema de Hollywood:
O cantor de Jazz (1927)
É considerado o primeiro filme falado e com som ambiente na história do cinema. No longa, há cenas mudas, mas em outras há falas e cantos. Na época, o sucesso foi garantido pela sua novidade. A técnica utilizava um som gravado e depois sincronizado no momento da projeção.No enredo, Jaki Rabinowitz é um jovem judeu que é oprimido pelo seu pai, quando decide cantar nas noites da cidade. O rapaz segue seu sonho em constante conflito com a herança cultural.
Branca de Neve e os sete anões (1937)
É o primeiro filme totalmente em cores, assim como o primeiro do Walt Disney, o primeiro a ser chamado de clássico da Disney e, claro, o primeiro longa-metragem de animação do cinema. A narrativa dispensa maiores descrições: Branca de Neve foi envenenada pela Rainha malvada após descobrir que ela estava morando com os sete anões, e agora só um príncipe pode resolver a situação.
… E o vento levou (1939)
Vencedor de 8 oscars, incluindo melhor filme, direção, atriz e atriz coadjuvante. Hattie McDaniel se tornou a primeira afro-americana a ganhar a estatueta. Esse episódio também marcou a segregação racial da época que, não só não permitiu que a atriz fosse na estreia do filme, como também proibia que ela sentasse a mesa junto com o restante do elenco na noite de premiação. Na clássica história, Scarlett O’hara tem tudo, menos o amor de Ashley Wilkes, que irá se casar com sua prima. Mas, com o inicio de uma guerra civil, o contexto dos relacionamentos mudam, assim como a segurança de todos.
Cidadão Kane (1941)
Considerado uma aula de cinema por explicitar o uso da estrutura narrativa, a música e a fotografia funcionam como linguagem e como forma de contar a história. A morte do magnata Charles Foster Kane tem o mistério de sua última palavra “Rosebud”, que não se sabe o seu significado. Um jornalista investiga o passado desse poderoso para desvendar esse mistério.
Crepúsculo dos deuses (1950)
Em 1989, a Biblioteca do congresso (Library of congress) estadunidense incluiu no primeiro grupo de filmes a serem preservados em película, por serem significativos para a história do cinema hollywoodiano. O filme foi indicado a 11 Oscars, vencendo 3 deles. Em sua narrativa, a vida de uma decadente atriz do cinema mudo entra em ruínas com a chegada do som ao cinema e contrata um jovem roteirista para coloca-la de volta ao topo. A intriga se dá no jogo de manipulação que nasce entre os dois.
Cantando na Chuva (1952)
Desde que o cinema passou a ser sonoro, os musicais passaram a ser um dos gêneros de maior procura do público. Esse clássico dos diretores Gene Kelly e Stanley Donen, curiosamente, teve uma estreia discreta, porém se consagrou graças à crítica que o colocou como o melhor musical de todos os tempos. No filme, Don e Lina são dois atores famosos amados pelo público. O fãs forçam um relacionamento entre eles, mas que não existe. Os dois precisam encarar as dificuldades da transição no primeiro trabalho em um filme falado.
2001: Uma odisseia no espaço (1968)
A obra-prima de Stanley Kubrick é um marco na história do cinema mundial e, com isso, no gênero de ficção-científica. O filme revolucionou os efeitos especiais, assim como criou uma relação marcante entre o cinema e a música. Em seu complexo enredo, há quatro capítulos, cada qual situando o homem em espaço e tempo distintos, porém interligados por meio de simbologias e contextos. Certamente é uma das obras mais enigmáticas e discutidas até o dia de hoje.
Hollywood marcou bastante a história do cinema. Assim, abrace sua nacionalidade e conheça também a história do cinema brasileiro e bons estudos!
Referências
A Arte do Cinema (2018) – David Bordwell e Kristin Thompson
Dicionário teórico e crítico de cinema (2010) – Jacques Aumont e Michel Marie
Cinema Hollywoodiano contemporâneo – Fernando Mascarello in História do Cinema mundial – Fernando Mascarello (org.)