Como o próprio nome sugere, os filósofos pré-socráticos foram aqueles que antecederam Sócrates. Eles são considerados os primeiros filósofos e estavam preocupados em entender a origem do universo, do ser, da natureza e do movimento. No decorrer da matéria, conheça os principais pensadores pré-socráticos e suas características.
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O que foi o período pré-socrático
O pensamento grego, antes da filosofia, era mitológico e cosmogônico (gênese do universo), ou seja, explicava a origem do mundo e os acontecimentos por meio da existência dos deuses e suas relações entre si. A condição humana era um reflexo da condição dos deuses.
A partir do surgimento da filosofia, o modo de pensar e refletir a realidade muda – o pensamento passa do mitológico e cosmogônico para o cosmológico (exercício do lógos, da razão, para explicar o universo), com as teorias propostas pelos pré-socráticos, também chamados de filósofos da natureza.
Os pré-socráticos tinham, então, como principal objetivo a compreensão do universo e do ser, pela ótica racional e filosófica, não mais mítica e religiosa. Para esses filósofos, não existia a noção de “criação” do mundo, pois eles não acreditavam que a existência do universo era antecedida por um “antes” ou um “nada”. Assim, as explicações acerca da constituição do universo eram pautadas em dois grandes princípios: a arché e a physis.
Os filósofos pré-socráticos desempenharam um papel fundamental na história da filosofia, não só por serem os pioneiros e construírem um novo modelo de pensamento, baseado na explicação racional, mas também por introduzirem novas possibilidades ao pensamento europeu ocidental em geral.
Características
Pelo fato de terem objetivos em comum, os filósofos pré-socráticos partilhavam dos mesmos princípios, ainda que fossem de escolas diferentes. Entenda quais são a seguir.
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- Arché: assim era chamado o princípio de tudo, entendendo que tudo o que existe no mundo compartilha de um mesmo elemento.
- Physis: um fundo eterno em que tudo existe, a natureza.
- Busca pela essência das coisas: os filósofos pré-socráticos teorizavam sobre a essência das coisas, questionando de onde elas vêm e como se descreve a natureza.
- Racionalidade: os pré-socráticos pautaram suas teorias cosmológicas a partir do lógos, ou seja, da razão, de uma explicação argumentativa lógica para defender a origem do universo.
- Noção do kósmos: esses filósofos entendem que o universo é um cosmos (do grego, “ordem”, “harmonia”), isto é, uma estrutura, uma totalidade das coisas no universo dispostas de forma ordenada. Essa ordem pode ser apreendida de modo racional pelo exercício filosófico.
Cada filósofo expressa os princípios acima de maneira diferente. No próximo tópico, conheça os principais pensadores pré-socráticos e suas características.
5 filósofos pré-socráticos
Neste tópico, você aprenderá sobre os principais filósofos pré-socráticos, suas escolas e seus pensamentos. Como explicado, eles possuiam os mesmos princípios, contudo há diferenciações. Acompanhe!
Tales de Mileto (624-546 a.C)
Considerado por Sócrates como o primeiro filósofo, Tales de Mileto faz parte da Escola Jônica. Ele foi um filósofo, matemático e astrônomo grego, de Mileto, na região da Ásia Menor (atual Turquia). O pensador defendia que a arché era a água ou o úmido, que estava presente em todo o universo em diferentes estados. Ele explicava a pluralidade dos corpos por meio desses diferentes estados da água. Outros filósofos dessa escola são: Anaxímenes de Mileto e Anaximandro de Mileto.
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Parmênides de Eleia (530-460 a.C)
Da Escola Eleata, Parmênides foi um filósofo pré-socrático que se preocupou em pensar sobre o Ser e, diferente de outros, não trabalhou com o conceito de arché. Ele afirmava que “o ser é e o não-ser não é”, ou seja, defendia que o Ser era único, imutável e uno. O movimento, para Parmênides, era aparente, apenas uma ilusão. Os contrários são apenas ausências do Ser, por exemplo, o que existe é a água, pois o seco é apenas a ausência do úmido. Também fazem parte dessa Escola, os pensadores Xenófanes de Cólofon, Zenão de Eleia e Melisso de Samos.
Heráclito de Éfeso (400-470 a.C)
Ao contrário de Parmênides, Heráclito acreditava fortemente no movimento, no devir, da ideia e de que tudo flui. A arché é o fogo que acende, apaga e gera o movimento das coisas do mundo. Heráclito defende a doutrina da unidade dos contrários, ou seja, existe uma unidade no fato de tudo sempre estar em movimento, passando de um estado a para um estado b, em que a e b são contrários, porém geradores do mundo. Ele é o único filósofo da Escola de Éfeso.
Pitágoras de Samos (570-495 a.C)
Assim como Tales, Pitágoras é um dos filósofos conhecidos por seus estudos matemáticos. Para ele, o número é o responsável por ordenar os quatro elementos primordiais que compunham o universo (água, fogo, terra e ar). O número é harmônico e é composto pela soma dos compostos, ou seja, os números pares e ímpares. Pitágoras compõe a Escola Itálica ao lado de Filolau de Crotona e Árquitas de Tarento.
Empédocles de Agrigento (490-430 a.C)
Da Escola Pluralista, pode-se destacar Empédocles, nascido em Agrigento, região da Sicília. O filósofo fundamentou sua teoria para explicar a essência do universo nos problemas postos por Parmênides e Heráclito, enquanto o primeiro defendia a imutabilidade, o segundo atestava para a necessidade do movimento. Empédocles, então, buscou a solução atribuindo a arché às raízes de substâncias inalteráveis, indestrutíveis e inalteráveis (terra, fogo, água e ar).
Para Empédocles, o movimento existe e a passagem de estado de uma coisa para a outra – da existência para a não existência, da vida para a morte – tem a ver com a junção ou separação das quatro raízes. No entanto, como elas são imutáveis, é preciso que existam forças para juntá-las ou separá-las, a fim de construir ou destruir as coisas. Essas forças são chamadas, por Empédocles, de Amor e Ódio. O amor é responsável por combinar as raízes, ao passo que o ódio é responsável por separá-las. Outros filósofos da Escola Pluralista são: Anaxágoras de Clazômena, Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera.
Vale ressaltar o nome de Demócrito, cuja arché era o átomo, um elemento indivisível que, ao se juntar com outros átomos, formava a substância. Quando essa se desfazia, os átomos se rearranjavam e compunham uma nova substância.
Videoaulas para aprender mais sobre os pré-socráticos
Nos três vídeos abaixo, você conhecerá o pensamento de outros filósofos que não foram expostos acima, como Anaximandro, Anaxímenes e Anaxágoras. Também é possível entender a visão panorâmica da importância dos filósofos pré-socráticos e suas questões, até então, inéditas no ideário grego.
O pensamento dos pré-socráticos
O vídeo do canal Conceito Ilustrado mostra uma visão ampla das teorias dos filósofos pré-socráticos e de seus principais objetivos, como a preocupação de explicar a natureza. Além disso, o vídeo traz o pensamento de filósofos pré-socráticos menos conhecidos, como Anaximandro, Anaxímenes e Anaxágoras. Assista para se aprodundar no assunto.
Quais eram as questões levantadas pelos pré-socráticos?
Em seu canal A Filosofia Explica, o professor Filicio Mulinari fala sobre as teorias dos filósofos pré-socráticos. Além disso, ele faz um panorama por meio das questões centrais dos filósofos naturalistas, como a preocupação com o universo, a natureza e o movimento.
Para entender Heráclito
Em seu canal, o professor Mateus Salvadori explica as principais diferenças entre os pensamentos de Parmênides e Heráclito, destacando os pontos da unidade dos opostos contrários, da ideia que o mundo é um contínuo devir e de apreciar o sentido trágico como uma alma seca, de acordo com Heráclito.
Gostou da matéria? Após aprender sobre os pré-socráticos, estude sobre um pensador que foi discípulo de Sócrates, o filósofo Platão. Ele também possui grande importância para a história da filosofia.
Referências
Convite à Filosofia (2000) – Marilena Chauí.
Iniciação à Filosofia (2014) – Marilena Chauí.
Iniciação à história da filosofia (2007) – Danilo Marcondes
Filósofos Pré-Socráticos: primeiros mestres da Filosofia e da Ciência grega (2003) – Miguel Spinelli.
Os pré-socráticos (1996) – Coleção Os Pensadores.
Exercícios resolvidos
1. [UFSJ (2012)]
Sobre o princípio básico da filosofia pré-socrática, é CORRETO afirmar que:
a) Tales de Mileto, ao buscar um princípio unificador de todos os seres, concluiu que a água era a substância primordial, a origem única de todas as coisas.
b) Anaximandro, após observar sistematicamente o mundo natural, propôs que não apenas a água poderia ser considerada arché desse mundo em si e, por isso mesmo, incluiu mais um elemento: o fogo.
c) Anaxímenes fez a união entre os pensamentos que o antecederam e concluiu que o princípio de todas as coisas não pode ser afirmado, já que tal princípio não está ao alcance dos sentidos.
d) Heráclito de Éfeso afirmou o movimento e negou terminantemente a luta dos contrários como gênese e unidade do mundo, como o quis Catão, o antigo.
Alternativa A é a correta. A arché de Tales era a água, conforme explicado ao longo da matéria.
2. [CESGRANRIO (2005)]
Os paradoxos ou aporias de Zenão de Eléia tinham como objetivo:
a) negar, com Parmênides, a percepção do movimento, da multiplicidade, do espaço e do tempo que nos oferecem os sentidos.
b) superar a negação do movimento que se encontra no poema de Parmênides, demasiadamente esquemática e dogmática.
c) defender as teses de Parmênides de maneira direta e irrefutável, com base na lógica e em intuições sensíveis.
d) mostrar, por absurdo, que o pensamento é limitado e leva ao sem-sentido, como no caso das teses contraintuitivas de Parmênides.
e) refutar os adversários de Parmênides, mostrando que premissas subjacentes à afirmação do movimento levam a contradições insuperáveis.
Alternativa E está correta. Assim como Parmênides, Zenão considera o movimento uma ilusão, por isso o seu paradoxo mostra a impossibilidade do movimento.