A metáfora é uma das figuras de linguagem da lingua portuguesa, na qual uma palavra cria analogia para se referir a algo. Isso diz muito sobre o que seja esta figura de linguagem semântica, como é costume classificá-la nos estudos da linguagem. Abaixo, entenda mais sobre o assunto.

Para que serve

A metáfora é a translação de significado motivada pelo emprego em solidariedades, em que os termos implicados pertencem a classes diferentes, mas que se percebem como assimilados por causa da combinação.

Assim, a metáfora serve para explicitar uma comparação que é implícita em um determinado contexto, transferindo o sentido de uma a outra palavra, de modo que uma relação entre elas fica estabelecida.

Para compreender, na prática, como isso acontece, veja os exemplos a seguir:

7 Exemplos

Exemplo 1: Não ponha a carroça na frente dos bois.

Com essa expressão metafórica, se quer dizer que não se deve antecipar uma situação à outra; ser imediatista; atropelar a ordem das coisas. Para não empregar estes termos “abstratos”, o dito popular substitui a abstração (antecipar uma situação) por uma situação concreta (colocar a carroça na frente dos bois).

Isso acontece porque há uma relação implícita estabelecida entre as duas expressões, já que não se pode mesmo – no sentido denotativo da expressão – colocar uma carroça na frente dos bois se são os bois que puxam a carroça (ordem natural das coisas) e, portanto, devem vir antes dela.

Exemplo 2: Cabelos de neve.

Para dizer que os cabelos de alguém estão brancos.

Exemplo 3: Gastar rios de dinheiro.

Para dizer que se gastou muito dinheiro.

Exemplo 4: Tenha doces sonhos.

Para desejar uma boa noite de sono a alguém, pois os “doces sonhos” seriam, na verdade, em sentido denotativo, “sonhos bons”.

Exemplo 5: Os dias correm.

Para dizer que os dias estão passando muito depressa.

Exemplo 6: Ele tem um coração de gelo.

Para dizer que alguém age de modo muito racional ou sem considerar os sentimentos dos outros, pois a frieza é entendida como uma falta de humanidade ou como a impossibilidade de alguém demonstrar afeto por outrem neste contexto.

Exemplo 7: Não sabe da missa um terço.

Diz-se quando se quer dar a entender que alguém não entende ou não sabe quase nada a respeito de uma situação ou pessoa.

Depois de aprender a definição de metáfora, para que ela serve e estudar os exemplos de algumas de suas situações de uso, aprenda a identificar uma metáfora.

Como identificar

A língua portuguesa é uma língua viva e dinâmica, por isso é importante conhecer os vários recursos linguísticos disponíveis para o uso dessa língua. Nesse sentido, é muito provável que você já tenha se perguntado como é possível identificar uma metáfora se a língua em movimento cria novos sentidos para as palavras cotidianamente, certo?

Se é impossível “segurar” os sentidos da língua e engessá-los, também é correto pensarmos em maneiras que facilitem a nossa compreensão da língua em uso. Um desses modos é saber que a língua pode ser usada em dois sentidos (semânticos) diversos: a. sentido denotativo; b. sentido conotativo (figurado).

É no sentido conotativo que a compreensão da metáfora pode ser encontrada. Isso porque a transferência dos sentidos entre os diferentes vocábulos é construída com base no sentido diverso daquele apresentado no léxico da língua (no dicionário).

Assim, sempre que uma palavra for usada de forma deslocada do seu sentido convencional, presente no dicionário, você estará diante de um uso do sentido conotativo e, em alguns casos, diante um uso metafórico da língua.

Metáfora e comparação

Um importante alerta em relação às figuras de linguagem é da diferenciação que se deve fazer entre a metáfora e a comparação. Quando se trata de metáfora, via de regra, o que se tem é um desvio da significação própria de uma palavra, a transferência dos sentidos entre as palavras, como já se viu anteriormente neste tópico.

Já no caso da comparação, o que ocorre é o estabelecimento de uma ligação entre os significados das palavras, uma vez que se usa, para estabelecer a comparação, não a troca das palavras, mas o seu acréscimo por meio de conectivos, quais sejam: como, tal, qual, assim como, semelhante a, semelhante ao etc.

Por exemplo, ao estabelecer uma comparação, o sujeito pode dizer: “Joana é delicada como uma flor”. Aqui há uma comparação porque o referente (delicada) e o seu objeto de associação/comparação (flor) estão explícitos na oração. Tivesse o sujeito se valido de uma metáfora, a frase poderia ser, por exemplo, “Joana é uma flor”.

Depois de estudar o que é metáfora, como usar e a diferença entre metáfora e comparação, confira alguns usos possíveis desse recurso linguístico tão importante para a construção dos sentidos na língua portuguesa.

5 usos possíveis da metáfora

Para entender mais sobre como utilizar essa figura de linguagem, confira 5 usos possíveis da metáfora em diferentes contextos do cotidiano:

1. Metáforas na poesia

Professores de língua portuguesa e literatura explicam que a literatura tem uma preferência pela metáfora, pois esse recurso constrói uma fusão imediata do mundo pessoal e do objetivo, do espiritual e do concreto, que leva a uma identificação direta do eu-lírico (ou do narrador) com o seu interlocutor. Nos exemplos a seguir, você pode conferir como isso funciona na prática:

  • “Gargalha, ri, num riso de tormenta, / Como um palhaço, que desengonçado, / Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado / De uma ironia e de uma dor violenta / Da gargalhada atroz, sanguinolenta, / Agita os guizos e convulsionado / Salta, gavroche, salta, clown, varado / Pelo estertor dessa agonia lenta (…)” – Acrobata da dor, de Cruz e Sousa

Esse poema do simbolista Cruz e Sousa é todo ele uma metáfora elaborada pelo artista para que pudesse falar a respeito do coração (que é o próprio “acrobata da dor”). Isso se evidencia, por exemplo, em versos como “da gargalhada atroz, sanguinolenta, / agita os guizos e convulsionado / salta (…)”, que metaforizam os movimentos de bombeamento do sangue por meio do coração que bate num ritmo acelerado.

O coração, que “salta” convulsionado (bate em ritmo acelerado), agita os seus “guizos” (o coração que, quando bate acelerado, emite um som ritmado, rápido e forte, como um guizo/chocalho).

  • “E como um anjo pendeu / As asas para voar. / Queria a lua do céu, / Queria a lua do mar… / As assas que Deus lhe deu / Ruflaram de par em par… / Sua alma subiu ao céu, / Seu corpo desceu ao mar” – Ismália, de Alphonsus de Guimaraens

Neste poema, Alphonsus de Guimaraens usa a metáfora do “voo” de Ismália para tratar da morte/suicídio (evidenciado em “sua alma subiu ao céu” e também em “seu corpo desceu ao mar”).

2. Metáfora nas tirinhas

A metáfora é utilizada também na produção de quadrinhos e tirinhas. Confira a seguir um exemplo:

Tirinha de Fernando Gonsales para Folha S.P.

Na tirinha, um dos personagens usa como metáfora para descrever o tamanho de seu amor pelo outro uma “caravana de rosas” que passeia por um espaço sem fim (deserto inefável) de paixão.

3. Metáfora na música

“Deixe em paz meu coração / Que ele é um pote até aqui de mágoa / E qualquer desatenção, faça não / Pode ser a gota d’água”

Ele [o coração] é “pote até aqui de mágoa”. Se a frase fosse apreendida em sentido denotativo, ela não faria muito sentido; entretanto, em sentido conotativo, compreendendo “pote de mágoa” como uma metáfora para um coração cheio de amargura ou desilusão, pode-se entender esse trecho da letra de Gota d’água, de Chico Buarque.

4. Metáfora em ditados populares

”Onde há fumaça, há fogo” . Nesse ditado popular, o uso de metáfora pode ser identificado porque o significado real da expressão não pode ser encontrado no sentido denotativo; ao contrário, o ditado só é compreendido quando o interlocutor consegue apreender o seu sentido “subterrâneo” (metafórico, portanto), de que é possível, pelas consequências de uma ação, conhecer as suas causas.

5. Metáfora em peças publicitárias

Peça publicitária do restaurante “Benedictus”.
Tirinha de Fernando Gonsales para Folha S.P.

Nesta peça publicitária, o restaurante brinca com os sentidos denotativos dos vocábulos presentes na frase que convida os consumidores a fazerem as suas refeições no “Benedictus” com “No Benedictus, até os ecologistas querem acabar com o verde”. No lugar do verbo “comer”, por exemplo, a propaganda opta por “acabar”, jogando com os sentidos dos verbos e fazendo com que o público capte a mensagem do restaurante por meio do contexto, que desloca o sentido denotativo do verbo “acabar”.

Depois de estudar a definição de metáfora e o seu funcionamento, ver como este recurso se diferencia da comparação e estudar alguns exemplos, você com certeza está preparado (a) para fixar seus conhecimentos assistindo aos vídeos indicados e, por fim, fazer os exercícios propostos. Bons estudos!

Vídeos sobre Metáfora

Nos vídeos a seguir você pode aprender com os professores um pouco mais sobre o recurso linguístico da metáfora. Assista agora mesmo para ampliar e consolidar os seus conhecimentos!

O fim da confusão entre “Metáfora” x “Comparação”.

Nesta aula, a professora Aline diferencia a comparação e a metáfora. Esta é uma aula para acabar, de forma definitiva, com a confusão entre essas duas figuras de linguagem.

Nome do assunto tratado no vídeo

Nesta aula, o professor Laércio explica, de forma rápida e didática, o que é a figura de linguagem “metáfora” por meio de exemplos.

Figuras de linguagem: aula super completa

Nesta aula, o professor Noslen explica o funcionamento de diversas figuras de linguagem, entre elas, a metáfora. Conteúdo completo e aula didática. Aos 3 min e 30 seg do vídeo começa o conteúdo de metáfora.

Agora que você aprendeu tudo sobre metáfora, veja este conteúdo sobre aliteração, outra figura de linguagem que vale a pena sua atenção.

Referências

Moderna gramática portuguesa (2009). Evanildo Bechara.

Exercícios resolvidos

1. [ENEM, 2016]

O adolescente

A vida é tão bela que chega a dar medo.

Não o medo que paralisa e gela,

estátua súbita,

mas

esse medo fascinante e fremente de curiosidade

[que faz

o jovem felino seguir para frente farejando o vento

ao sair, a primeira vez, da gruta.

Medo que ofusca: luz!

Cumplicentemente,

as folhas contam-se um segredo

velho como o mundo:

Adolescente, olha! A vida é nova…

A vida é nova e anda nua

– vestida apenas com o teu desejo!

QUINTANA, M. Nariz de vidro. São Paulo: Moderna, 1998.

Ao abordar uma etapa do desenvolvimento humano, o poema mobiliza diferentes estratégias de composição. O principal recurso expressivo empregado para a construção de uma imagem da adolescência é a:

a) metáfora da estátua.
b) hipérbole do medo.
c) comparação entre desejo e nudez.
d) antítese entre juventude e velhice.
e) personificação da vida.

A resposta correta é a letra e), haja vista que o recurso principal do texto para a construção da imagem da adolescência é a personificação (prosopopeia).

2. [UFPB]

I. “À custa de muitos trabalhos, de muitas fadigas, e sobretudo de muita paciência…”
II. “… se se queria que estivesse sério, desatava a rir…”
III. “… parece que uma mola oculta o impelia…”
IV. “… e isto (…) dava em resultado a mais refinada má-criação que se pode imaginar.”

Quanto às figuras de linguagem, há nas alternativas, respectivamente,

a) gradação, antítese, comparação e hipérbole
b) hipérbole, paradoxo, metáfora e gradação
c) hipérbole, antítese, comparação e paradoxo
d) gradação, antítese, metáfora e hipérbole
e) gradação, paradoxo, comparação e hipérbole

A alternativa correta é a letra d) gradação, antítese, metáfora e hipérbole, pois, na primeira sentença, tem-se uma gradação, uma vez que há uma sucessão de acontecimentos e sentimentos; na segunda, há uma antítese, pois há uma oposição entre ser sério e rir; na terceira, metáfora, porque porque desloca os sentidos do vocábulo sem utilizar conectivo de comparação; por fim, a última sentença é uma hipérbole por apresentar um exagero em sua formulação: “a mais refinada má-criação”.

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